Em 1987, o termo ‘Desenvolvimento Sustentável’ foi definido como “satisfazer as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazerem as suas próprias necessidades” [1]. Contudo, a humanidade consome, anualmente, mais recursos naturais do que aqueles que o Planeta Terra consegue regenerar no mesmo período de tempo [2].
Este impacte é monitorizado através do Earth Overshoot Day que representa o dia em que a humanidade esgota os recursos e passa a viver em défice ecológico até ao final do ano. Em 2022, este dia foi atingido a 1 de agosto e tem vindo a distanciar-se cada vez mais do final do ano, tendo sido Portugal o 6º país que mais recursos consumiu, como se verifica pela Figura 1 e 2, respetivamente [2].
Figura 1. Earth Overshoot Day ao longo dos últimos anos.
Figura 2. Número de planetas que seriam necessários se a população mundial vivesse como nos países indicados.
Com o aumento dos níveis de poluição, das alterações climáticas, das emissões de gases com efeito de estufa, da taxa de pobreza, entre outros fatores de interesse económico, social e ambiental, todos os Estados Membros das Nações adotaram os objetivos presentes na Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável [3] [4].
Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), reconhecem que a erradicação da pobreza e de outras privações, devem estar de mãos dadas com estratégias que promovam a saúde e a educação, reduzam as desigualdades e estimulem o crescimento económico, paralelamente ao combate às alterações climáticas e à preservação dos oceanos e florestas, interligando assim os três grandes pilares da sustentabilidade: Económico, Social e Ambiental [4].
Cada ODS conta com várias metas que cada Estado Membro deve cumprir, ou pelo menos, trabalhar para as atingir [4]. No entanto, embora alguns domínios tenham registado progressos, continua a haver uma grande quantidade de objetivos que estão a evoluir muito lentamente ou, até mesmo, a regredir. Mais de 30% dos 140 objetivos que podem ser avaliados não apresentam qualquer progresso ou, ainda pior, uma regressão em relação ao ano-base de 2015, como se verifica na Figura 4 [5].
Figura 3. Os 17 ODS definidos na Agenda 2030.
Figura 4. Progresso dos 17 ODS com base nas metas avaliadas.
De entre todos os ODS aquele que mais se destaca de forma positiva é o G12 – Produção e Consumo Sustentáveis, visto que cerca de 35% das metas já foram cumpridas e mais de 25% apresentam uma perspetiva otimista de realização [5]. Neste contexto, é de salientar o esforço por parte de 62 países e da União Europeia (EU) para a implementação de 485 políticas que apoiam a transição para o consumo e a produção sustentáveis, além do Plano de Implementação para um novo Pacto Climático Global, o Quadro Global da Biodiversidade e a resolução 5/14 da Assembleia das Nações Unidas para o Ambiente, sobre o fim da poluição por plásticos [5].
Outro fator positivo neste contexto é o número de relatórios de sustentabilidade que triplicou, desde 2016, o que demonstra o interesse das empresas em divulgar os seus progressos no âmbito do desenvolvimento sustentável, através do compromisso com os ODS [5, 6]. A perspetiva futura é ainda mais otimista tendo em vista a Diretiva de Relatórios de Sustentabilidade Corporativa (CSRD) 2022/2464, em desenvolvimento pela EU, “que exige que as grandes empresas e as sociedades cotadas publiquem relatórios regulares sobre os riscos sociais e ambientais que enfrentam e sobre o impacto das suas atividades nas pessoas e no ambiente”, que será obrigatório a partir de 2025 [7].
O modelo económico tradicional de take-make-use-dispose apresenta graves impactes no ambiente, uma vez que se centra preferencialmente na produção, não tendo em consideração a importância de uma boa gestão de recursos, bem como a necessidade de gerir a produção de resíduos e de gases com efeito de estufa, sendo, por isso, incapaz de apoiar o desenvolvimento sustentável [8]. Em contraste, a Economia Circular (EC) é um modelo produtivo que envolve a partilha, o aluguer, a reutilização, a reparação, a renovação e a reciclagem de materiais e produtos existentes durante o maior tempo possível, alargando o ciclo de vida dos mesmos [9] e representa um conjunto de ações promissoras e dessa forma, tem recebido especial atenção nos últimos anos. Na EC os resíduos são considerados um recurso que pode ser utilizado para outros ciclos de produção, o que permite uma visão holística da economia, cria resiliência e desenvolvimento sustentável [8].
A indústria do plástico representa uma parcela significativa da economia global, ultrapassando os 300 milhões de toneladas com aplicações em embalagens, sendo utilizado em diversos setores, como o automóvel, aeronáutica, desporto, construção, saúde e dispositivos médicos [10]. O fabrico de plásticos requer quantidades significativas de recursos naturais e energéticos, sendo que cerca de 4% da produção anual de petróleo é diretamente convertida em plásticos [10, 11]. Para além disso, a crescente procura e o descarte inadequado têm-se traduzido num aumento de diversos impactes ambientais negativos como, por exemplo: poluição hídrica e alterações climáticas [10]. Nos últimos anos, a poluição dos plásticos nos oceanos tem sido um tema central, com um aumento do número de estudos e relatórios. Prevê-se que sem uma ação considerável que combata a poluição dos plásticos, o fluxo anual de plásticos para o oceano triplique até 2040, para, aproximadamente, 29 milhões de toneladas por ano [12].
Em média, cada europeu produz aproximadamente 180 kg de resíduos de embalagens por ano. As embalagens são um dos principais utilizadores de materiais virgens, uma vez que, respetivamente, 40 e 50% dos plásticos e do papel utilizado na EU destinam-se a embalagens. Caso a tendência não seja alterada, até 2030, os resíduos de embalagens e de embalagens de plástico na EU, deve aumentar cerca de 19 e 46%, respetivamente [13]. Em resposta à transição para uma economia circular, a EU propôs, em novembro de 2022, novas regras em relação às embalagens. O principal objetivo é reduzir os resíduos de embalagens, melhorar a sua conceção e estimular a transição para plásticos de base biológica, biodegradável e compostável [9].
Para dar resposta a esta problemática, encontra-se em ação, desde outubro de 2018, o Compromisso Global da Nova Economia do Plástico, lançado pela Fundação Ellen MacArthur em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Ambiente. Este Compromisso une empresas, governos e outras organizações de todo o mundo, em torno de uma visão comum de economia circular para os plásticos, na qual estes nunca se convertem em resíduos ou agentes poluidores, captando assim novas oportunidades [14]. Os principais objetivos são a eliminação dos produtos plásticos desnecessários, a inovação para que todo o plástico seja concebido para ser reutilizado, reciclado ou compostável em segurança e a circulação de todo o plástico utilizado para o manter na economia e fora do ambiente [15].
A economia circular é não só essencial para travar a poluição por plásticos, como também oferece benefícios económicos, sociais e ambientais, e contempla, portanto, todos os âmbitos da sustentabilidade [16]. Este tipo de iniciativas permite ultrapassar as limitações das utilizadas atualmente, ao criar um sentido de orientação partilhado, desencadeando uma corrente de inovação e a oportunidade de levar a cadeia de valor dos plásticos a uma espiral positiva, o que por sua vez se traduz numa economia mais forte e com os melhores resultados ambientais [17].
Apesar dos seus impactes negativos, o plástico tem grande relevância em vários dos 17 ODS. É uma indústria responsável pela criação de milhares de oportunidades de emprego, sendo essencial no combate à pobreza (ODS 1). Por sua vez, o acesso ao emprego conduz a acessos à saúde (ODS 3), à igualdade de género (ODS 5), ao trabalho digno e ao desenvolvimento económico (ODS 8), bem como a redução de desigualdades (ODS 10). De acordo com dados referentes ao ano de 2017, as atividades de reciclagem, e reutilização de materiais, foram responsáveis pela criação de 757 000 postos de trabalho, só nos Estados Unidos da América [18].
Em suma, é evidente a importância do plástico na sociedade moderna, no desenvolvimento sustentável e no sucesso da Agenda 2030. No entanto, o plástico não tem apenas prós, mas também alguns contras preocupantes que podem afetar negativamente o ambiente, a sociedade e a economia. Quando descartado de forma inadequada, pode causar problemas socioambientais, sendo necessário educação e um verdadeiro compromisso de todos os setores da sociedade para solucioná-los [18].
O PIEP tem como sua principal missão ser uma entidade de referência na inovação em engenharia de polímeros, missão esta que o move para uma partilha constante de conhecimentos com os seus associados, clientes e parceiros, tendo como mote a necessidade da resolução da problemática dos plásticos, maximizando as suas potencialidades e a sua utilidade na sociedade atual. Assim, tem como foco o desenvolvimento de produtos e processos mais sustentáveis e ecológicos, em parceria com organizações preocupadas com o futuro, tendo em vista a circularidade e a sustentabilidade da sociedade. Destacam-se o desenvolvimento de roadmaps de inovação para a economia circular, desenvolvimento de materiais sustentáveis através da valorização de recursos e resíduos, avaliações de impactos ambientais, económicos e sociais, desenvolvimento de relatórios de sustentabilidade para empresas e organizações, entre outras ações que conectam a inovação, a indústria e a sustentabilidade.
Autores:
Ana Carolina Soares, Bruna Machado, Luís Silva, Natália Ladeira, Samara Costa e Bruno Silva, PIEP
Artigo originalmente publicado na revista InterPLAST.